‘Você foi feita para o meu coração’: a adoção, da emoção do encontro aos desafios e amor de família

Em MS, 83 crianças e adolescentes estão aptas a serem adotadas e há 242 pretendentes à habilitação. Mas, a 'conta não fecha' devido às exigências.

Priscila, Emerson e os três filhos — Foto: Arquivo de família

De um lado, uma fila imensa de pretendentes à adoção. Do outro, uma de crianças e adolescentes abrigadas. Nesta, várias aptas a construírem uma nova história. A matemática desta realidade não fecha, mas quem já está com novos integrantes na família fala do que não se calcula em números: emoção, desafios e amor.

“Ter filhos é um desafio muito grande, independente de ser adotivo ou biológico. Não acredito que seja diferente filho da barriga ou do coração. O amor é igual, a dedicação é igual , o tanto que você cede é igual”, e assim a engenheira agrônoma Priscila Horvath resume a rotina que a família vive há dois anos, desde que ela e o marido, o zootecnista Emerson Farias Bispo, se tornaram pais de três crianças.

Ela e Emerson disseram à Justiça que poderiam adotar irmãos e não tinham distinção de cor e raça. Resultado: no fim de 2019 estavam aptos a adotar e no começo de 2020, a casa já tinha mais três pessoas, brinquedos para todos os lados e ainda mais amor.

Amor esse que Priscila e Emerson dão e recebem de volta, diariamente. A construção da reciprocidade do sentimento não foi fácil, lembra a engenheira. Um desafio, assim como qualquer outro quando se fala em família, em filhos.

“Ontem, eu estava dando banho no Samuel e ele disse: Mamãe você foi feita pro meu coração. Eu olhei pra ele e disse: você também foi feito para o meu coração. Ele só tem 4 anos. Fiquei emocionada de ver que o amor é recíproco. É um desafio, mas o amor de tê-los na vida da gente é maior. Foi fluindo, só tem dois anos e parece que é uma vida inteira. A família está rodando direitinho. Se Deus quiser a gente vai ficar velhinhos e ver eles cresceram em graça e sabedoria”.

Emoção

A psicóloga Karla Lacerda Gomes e o marido estão juntos há quase 20 anos. No início não pensavam em ter filhos, mas aí veio a Fernanda, hoje com 9 anos. A menina foi crescendo e pedia uma irmã. Junto com os pedidos, a possibilidade de adoção.

Os pais explicaram para Fernanda, participaram de cursos e então chegou a Tainá. Em 2019 houve o primeiro encontro da família com a criança. “Foi emocionante. Ela falou: minha família chegou. Aí você sente o peso da responsabilidade”, resume Karla sobre o momento da decisão de levar a pequena para casa.

Hoje, Fernanda e Tainá são melhores amigas. As brigas acontecem, como qualquer irmão. O amor entre elas também.

“O amor é capaz de curar todas as feridas. É desafiante, é um esforço e você vê o quanto uma família faz falta na vida de alguém”, diz Karla.

E o primeiro encontro também foi determinante para a família da dona de casa Patrícia Silva. Ela já tinha outros filhos, mas quando “encostou no rostinho” do mais novo, a decisão foi pela adoção. Hoje. ela resume: “Eu fui um anjo na vida dele e ele foi um anjo na minha”.

Fila

Em Mato Grosso do Sul, 83 crianças e adolescentes estão aptas a serem adotadas e há 242 pretendentes à habilitação. Mas, a ‘conta não fecha’ devido às exigências relacionadas à idade, cor, gênero e quantidade de irmãos.

A desembargadora Elizabete Anache, coordenadora da Infância e da Juventude no estado, explica que as exigências dos pretendentes faz com que muitos esperem por anos para adotar e que outras tantas crianças e adolescentes não consigam uma família.