
Diversas pessoas que reclamaram, de forma preconceituosa, da prioridade da vacinação contra Covid-19 para indígenas em Dourados, a 229 quilômetros de Campo Grande, foram denunciadas por racismo por um promotor de justiça, na tarde desta terça-feira (19).
De acordo com o promotor João Linhares, as respostas a notícias publicadas em redes sociais eram inadmissíveis. “Enviei o material à PF, para que fosse instaurado inquérito e investigados os leitores de sites que fizeram os comentários odiosos, nefastos, pelo crime de racismo, que prevê pena de dois a cinco anos e multa”, afirma.
Os comentários questionavam a escolha dos órgãos de saúde sobre as primeiras pessoas a receberem a vacina contra a Covid-19. Em Dourados, mais de 11 mil doses da vacina serão exclusivas a indígenas. O direito se dá pelo povo indígena estar entre os grupos sociais considerados vulneráveis e protagonizarem números alarmantes de infecções. A primeira pessoa vacinada no estado foi, inclusive, uma indígena de 91 anos.
Em Mato Grosso do Sul, 3.960 indígenas contraíram a doença, sendo 546 em Dourados. 80 perderam a vida, sendo 29 de Aquidauana, 19 de Sidrolândia e 12 no município de Dourados. A infectologista Andyane Tetila explica os motivos da vulnerabilidade dos indígenas à Covid-19. “Além da constituição genética, por morarem em comunidades mais fechadas, como aldeias, também há o contexto social, de modo cultural de vivência, além da habitação, com muitas pessoas morando na mesma casa. Ainda há de ser considerada a parte cultural do contato entre eles. Então é totalmente diferente da população urbana, que nós conseguimos ter maior controle”, esclarece.
De acordo com o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Dourados, coronel Joe Saccenti, as doses foram distribuídas a seis equipes na aldeia de Dourados. A vacinação acontecerá toda na própria reserva indígena. A meta é vacinar pelo menos 90% da população que tem direito a dose no município.
Para o promotor João Linhares, os comentários preconceituosos e criminosos em notícias precisam ser mais coibidos nas redes sociais.
“Essa discriminação, xingamentos e, especialmente, a depreciação da comunidade indígena, são intoleráveis à luz da constituição, das convenções internacionais. A internet é regulada por lei, não uma terra em que a pessoa possa se manifestar ofendendo outras, praticando crimes, sobretudo encampando crimes de ódio. Essas pessoas devem responder criminalmente por isso”, finaliza.