
Na última terça-feira (10) a Polícia Civil reuniu representantes de 38 entidades de assistência social para doar 18 toneladas de carne bovina que haviam sido apreendidas cinco dias antes junto com um carregamento de 1,5 tonelada de maconha. Cerca de 85% do material foi distribuído e agora o proprietário promete recorrer à Justiça para exigir indenização pelo prejuízo que diz ter sofrido.
A doação foi feita mediante autorização judicial, já que havia risco de que a carne sofresse deterioração caso o sistema de refrigeração da carreta enfrentasse alguma pane, uma vez que já estava parada havia cinco dias.
Porém, no mesmo horário em que a distribuição era feita, outra decisão judicial, proferida pelo juiz Márcio Alexandre, da sexta Vara Criminal de Campo Grande, suspendeu a entrega e mandou devolver a carne, conforme o advogado da empresa RKO, João Paulo Cestari Grotti.
Mas, quando a nova decisão judicial chegou à Denar, cerca de 15,5 mil quilos já haviam sido distribuídos para instituições como a Cotolengo, que recebeu 200 quilos. O restante, 2,5 toneladas, acabou sendo devolvido ao proprietário, uma empresa que funciona na região do bairro Jacy, em Campo Grande.
De acordo com o advogado João Grotti, o juiz entendeu que o proprietário do carregamento não tinha elo com os narcotraficantes e que a carne ainda estava em condições para ser comercializada, contrariando inclusive laudo da Iagro, que atestou que o carregamento estava apto para o consumo, mas não para comercialização.
O juiz, conforme o advogado João Grotti, acatou o argumento de que o proprietário da maconha era a transportadora, uma empresa que há seis meses prestava serviço para a RKO. “Prova disso é que o dono dessa empresa foi detido junto com outras cinco pessoas no galpão em que os policiais apreenderam a carreta”, informa o advogado.

Esse galpão, conforme nota distribuída pela Polícia Civil e a Polícia Rodoviária Federal, servia como entreposto de traficantes e era constantemente utilizado para despachar grandes quantidades de maconha e cocaína em meio a cargas ilícitas para o centro-sul do país.
A RKO havia despachado quatro carretas com carne bovina para Minas Gerais e uma delas ficou para trás, segundo o advogado. A carga estava avaliada em R$ 271 mil e o prejuízo está estimado em cerca de R$ 230 mil, levando em consideração que somente 15% das carcaças foram devolvidas.
Agora, o empresário pretende exigir indenização por danos materiais e morais tanto do Governo do Estado, que distribuiu a carne, quanto da transportadora. O advogado João Grotti que admite que “a polícia agiu corretamente ao fazer a distribuição, já que a carga era perecível. Porém, meu cliente não pode ficar no prejuízo”, argumenta ao informar que as ações judiciais exigindo ressarcimento devem ser protocoladas a partir de segunda-feira (16).
Todos os carregamentos de carne saem dos frigoríficos ou locais de embarque com lacre que só pode ser aberto nos locais de destino. Nem mesmo a polícia tem autorização para romper estes lacres para fazer vistoria quando desconfia de alguma irregularidade.
E no caso desta apreensão, o lacre não estava violado. Então, a conclusão dos policiais é que os traficantes estavam removendo integralmente as portas dos baús sem rompimento dos lacres para conseguir embarcar as drogas.
A transportadora que supostamente estaria envolvida com o esquema do narcotráfico fica em Marília, onde funciona desde 2016, e estava na mira da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Civil fazia alguns meses, conforme policiais que atuaram na operação.
No dia 25 de abril, agentes da Polícia Rodoviária Federal apreenderam, na BR-158, em Paranaíba, 484 quilos de cocaína em meio a um carregamento de carne resfriada. O motorista informou que receberia R$ 200 mil pelo transporte.
A descoberta, segundo informou a PRF à época, só ocorreu porque os agentes constataram excesso de peso no caminhão. Diante disso, ele foi levado a um frigorífico e o lacre foi rompido em local onde havia autorização para ser substituído.
Os policiais que participaram da operação da semana passada em Campo Grande não confirmam se aquele carregamento pertencia à mesma quadrilha. Porém, a BR-158 é uma das principais rotas de acesso a Minas Gerais, para onde iria a carreta retida no último dia 5.