
O controle da emissão de gás metano (CH4) é um dos desafios para evitar danos na camada de ozônio.
Ele é o segundo gás em importância para causar o efeito estufa, além do dióxido de carbono (CO2) e do óxido nitroso.
Porém, estudo feito pela Embrapa Pantanal aponta que o CH4 deve chegar à atmosfera do planeta até a metade do século 21, sendo emitido apenas por condições naturais.
E justamente o Pantanal, que está em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, é um desses locais que vão contribuir com essa emissão.
As áreas úmidas em regiões tropicais são fontes naturais de emissão do gás metano, independentemente da atividade econômica que é desenvolvida nessas regiões.
A pesquisa da Embrapa Pantanal, divulgada em 2018, vem subsidiando políticas públicas e outros estudos para indicar que o setor da pecuária não é exatamente um vilão na poluição do meio ambiente em se tratando da criação de gado existente no bioma de áreas alagáveis.
Corumbá, por exemplo, figurou em 2016 como o segundo município com maior rebanho do Brasil, com 1,82 milhão de animais.
A partir dessa situação, houve diversos indicativos de que o gado de corte poderia gerar poluição com gás metano no meio ambiente, o que se refletiria no próprio bioma.
Estudos apresentados na pesquisa da Embrapa Pantanal apontam que as emissões do gado variam entre 115 e 150 g CH4 por dia.
O Nelore adaptado ao bioma chega a emitir entre 141 a 323 g CH4.
A pesquisa foi mais a fundo e identificou que no município da Capital do Pantanal, o gado criado gera entre 94 e 214 Gg (coeficiente de matriz de emissões) CH4 por ano.
“Uma típica fazenda extensiva no Pantanal, de aproximadamente 10 mil hectares e cerca de 2 mil animais, deve produzir anualmente em torno de 103 a 236 Mg de CH4.
Considerando que cerca de 50% da propriedade fica inundada, a emissão nos campos fica na faixa de 440 a 10.800 Mg CH4 por ano”, aponta o estudo da Embrapa Pantanal, que também tem pesquisadores da Embrapa Gado de Corte e Embrapa Agropecuária Oeste, de Dourados.
“Como resultado, a emissão de um sistema tradicional de criação de bovinos no Pantanal é esperada ser muito menor e deve representar uma fração pequena diante da magnitude e da variabilidade de áreas de emissão de CH4 por conta dos ciclos de cheias”, completa o estudo.
O trabalho científico foi publicado na Elsevier, em inglês.
A questão sobre a emissão de gases poluentes na atmosfera ganhou repercussão nesta semana por conta da divulgação, na segunda-feira (13), da segunda edição do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
A pesquisa foi elaborada pelo Observatório do Clima com dados de 2019, apenas um ano seguinte à publicação do estudo da Embrapa.
Essa pesquisa do Observatório do Clima indicou que Corumbá ainda figura como um dos municípios no Brasil com maior emissão de gases.
A Capital do Pantanal, junto com Cáceres (MT), corresponde a 49% das emissões que existem no Pantanal.
“No quesito emissões acumuladas no período 2000-2019, o município de Corumbá (MS) é o primeiro do ranking, com total acumulado de 74,5 MtCO2e, seguido por São Félix do Xingu (PA) e Ribas do Rio Pardo (MS), com 73,7 e 49,9 MtCO2e, respectivamente”, indicou o Observatório do Clima no estudo divulgado nesta semana.
Com a pecuária não representando o maior número em emissão de gases, um dos problemas enfrentados por Corumbá para cortar essa poluição é atuar diretamente para mitigar e prevenir os incêndios florestais no bioma.
Programa
Nesse sentido, o próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está com programa em execução chamado ABC+, para atuar na redução de emissão de carbono na agricultura.
“O setor agropecuário assume um papel importante nos esforços nacionais para o enfrentamento da mudança do clima, bem como o cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima”, apontou a ex-ministra do Mapa Tereza Cristina, em documento do plano ABC+.
Conforme o estudo da Embrapa, o “Pantanal é um bioma complexo”, subdividido em 12 sub-regiões por conta de suas características ecológicas, hidrológicas e particularidades geológicas.
Cada Pantanal tem suas particularidades em termos de “espaço-tempo” na dinâmica de enchentes e diversidade.
Essas variedades exigem análises criteriosas para atuar em atividades sustentáveis.
* Colaborou Rodolfo César