Mato Grosso do Sul bate recorde de injúria racial e racismo contra a mulher em 2022

Dois primeiros meses desde ano já somam maior número de casos de racismo contra elas dos últimos cinco anos, aponta Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública

Janeiro e fevereiro já somam 18 casos de racismo contra mulheres em Mato Grosso do Sul - Aquivo/ Correio do Estado/ Álvaro Rezende

Ano passado, Mato Grosso do Sul registrou o maior número de crimes de injúria racial e racismo contra mulher, desde 2018, com 247 e 13 casos, respectivamente, e mais da metade das mulheres pretas no Brasil afirmam terem sido vítimas de assédio em 2022.

Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) mostram que, somente janeiro e fevereiro deste ano, já somam 18 casos de racismo registrados contra mulheres em Mato Grosso do Sul, sendo que esse valor bimestral já coloca 2022 a frente de todos os valores anuais registrados até então.

Ano

Injúria Racial

Racismo

2018 200 9
2019 234 10
2020 176 5
2021 182 2
2022 247 13
2023 35 18

 

Como bem detalha a 4ª edição do relatório “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), todas as formas de violência contra a mulher apresentaram crescimento acentuado no último ano.

Ainda, dados apontam que as agressões físicas; ofensas sexuais e abusos psicológicos se tornaram ainda mais frequentes na vida das brasileiras, sendo que o assédio sexual, seja no ambiente de trabalho ou no transporte público, atingiu recordes inimagináveis.

“O fato é que estamos diante de um crescimento agudo de formas graves de violência física, que podem resultar em morte a qualquer momento”, esclarece o documento.

Causas da violência

Também, o relatório aponta para três fatores que podem ser encarados como “centrais” para compreender o agravamento deste cenário:

  1. – Desfinanciamento das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher
  2. – Comprometimento dos serviços de acolhimento em função da pandemia
  3. – Intensificação de movimentos ultraconservadores, que combatem igualdade de gênero

Quanto ao primeiro, o próprio FBSP apontou em outros relatórios esse desfinanciamento das políticas de enfrentamento à violência contra a mulher, por parte do Governo Federal nos últimos quatro anos.

Além disso, conforme o estudo, uma nota técnica do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) sinalizou a menor alocação orçamentária para o enfrentamento da violência contra mulheres em uma década.

“Os números alarmantes de violência contra a mulher são um retrato de um orçamento que não permite que os recursos federais cheguem aos estados e municípios, ou quando chegam é com atraso e em quantidade insuficiente”, relata a assessora política do Inesc, Carmela Zigoni.

Assim como a falta de recursos, a restrição dos horários de funcionamento e dificuldades de circulação, impostas pela pandemia da Covid-19, é tido como um dos fatores que afetaram os serviços de saúde, assistência social, segurança e acesso à justiça em todo o país.

Por fim, a intensificação de movimentos ultraconservadores na última década também é encarada como fator, por pautar a igualdade de gênero como tema a ser combatido.

Como exemplo, vale citar o movimento “Escola sem Partido”, que incluiu o assunto em sua abordagem em 2011, sendo feito através da intimidação a professores, e proposição de projetos de lei que atacam a inclusão de questões relativas à igualdade de gênero, raça e sexualidade nos conteúdos escolares.

Vitimização da mulher negra

Ainda conforme o documento, quando analisado o perfil racial, é possível apontar um maior nível de vitimização entre mulheres negras [pretas e pardas] (49,1%), do que entre brancas (42,2%).

Nesse contexto, as mulheres tidas como pretas retintas são ainda mais vulneráveis, sendo que, quando analisado quais mulheres foram vítimas de algum tipo de assédio, 52,3% desse grupo relatam esse tipo de violência.

Nesse mesmo recorte das vítimas de assédio, 42,2% das mulheres brancas afirmam que sofreram essa violência, enquanto o valor é de 47,9% entre as mulheres pardas e 49,1% das negras (pretas+pardas).

Também, mais da metade das mulheres pretas (50,4%) sinalizam que já receberam cantadas e comentários desrespeitosos enquanto andavam pela rua, enquanto o valor é de 38,1% entre as mulheres brancas. Já no ambiente de trabalho, mulheres pretas também são mais vítimas de violência do que os demais grupos (26,2%).