
Cada vez mais populares nos últimos anos, as histórias em quadrinhos têm conquistado um espaço expressivo, inclusive em Mato Grosso do Sul. Artistas do Estado têm feito sucesso ao retratar memórias e trajetórias de personagens locais, com estilos diferentes entre si.
O quadrinista Fábio Quill, 48 anos, acabou de lançar o livro “A Casa Baís”, uma HQ que conta a trajetória da artista campo-grandense Lídia Baís, e prepara um novo trabalho intitulado “A Ausente Ordem das Coisas”, selecionado pelo Fundo de Investimentos Culturais de Mato Grosso do Sul (FIC/MS).
“Também estou iniciando o projeto Gibi MS, que vai capacitar seis autores iniciantes de MS para criarem HQs curtas que serão publicadas em uma coletânea, com apoio do Itaú Rumos Cultural. As inscrições já estão abertas e encerram dia 15”, explica Fábio.
Todo esse trabalho é fruto de um longo caminho. “Comecei a minha carreira pintando grafite em 1993, junto com a segunda geração de grafiteiros de São Paulo, que era onde eu morava, na zona leste, periferia. Foi no grafite que eu consegui ter um pouco de expressão”, conta.
Fábio ressalta que sempre quis ser quadrinista, mas era algo distante da sua realidade na época.
“Fui desenvolvendo esse trabalho de grafite na rua até que, em 2009, decidi diminuir a ação nas ruas para tentar entender a minha arte e o que eu tinha para dizer, porque o grafite naquele momento era muito coletivo”, ressaltou.
“Nessa nova busca de entender o que eu tinha para dizer, comecei a pintar telas, fazer esboços, muita pesquisa, e partindo disso tudo eu lembrei da infância, daquele desejo de ser autor de histórias em quadrinhos”, completou.
Fábio começou a produzir contos, para só então chegar nas histórias em quadrinhos. Para o artista, as HQs têm crescido no Estado, principalmente pelo investimento do poder público.
“Mato Grosso do Sul é um celeiro de grandes artistas, uns com mais bagagens, outros com menos”, comenta.
“Uma outra conquista é o poder público, tanto do Estado quanto do município de Campo Grande, enxergar os quadrinhos como um dos gêneros literários, uma coisa que estava meio confusa e agora ficou bem evidenciada, que os quadrinhos estão debaixo desse guarda-chuva da linguagem literária”, frisa.
O ilustrador Wanick Correa, 39 anos, concorda com Fábio.
“O cenário regional ou a cena dos quadrinhos regionais é uma crescente. É nova a ideia de ter um edital em que no título as histórias em quadrinhos estejam sendo contempladas. Tivemos isso na Lei Aldir Blanc, com vários artistas concorrendo com propostas de quadrinhos e/ou material relacionado ao tema”, comemora.
Wanick começou como ilustrador há 17 anos, procurando emprego em agências de publicidade.
“Comecei em 2004, procurando trabalho de porta em porta em agências de publicidade, até que uma gostou da minha proposta de estilo de desenho e me contratou para fazer um encarte de CD na época”, detalha.
“De lá para cá trabalhei com agências de publicidade, produtoras de vídeo e editoras. Atualmente atuo com ilustração até mesmo para marketing digital e redes sociais. Em 2014, lancei meu primeiro romance em quadrinhos, ‘Detalhes’, em coautoria com a minha esposa, Pri Muniz, e com apoio do Fundo Municipal de Cultura”, completa.
Em 2018, Wanick e Pri Muniz lançaram “Amor Sobre Rodas”, que tem como cenário a cidade de Campo Grande. “Minha proposta de história é sempre bairrista, contando sempre como cenário ou fundo de enredo com o contexto da cidade de Campo Grande ou com a região Centro-Oeste, seus costumes, suas comidas típicas e sua cultura material e imaterial”, ressalta.
O ilustrador prepara um novo trabalho, também sobre Campo Grande. “Atualmente estou trabalhando em uma história que tem como pano de fundo o fim da Guerra do Paraguai e a fundação de Campo Grande, com personagens fictícios em meio a fatos históricos.
Provavelmente o livro será lançado no ano que vem”, adianta.
Temático
O sucesso das histórias em quadrinhos também abrange outras temáticas. O pastor, autor e ilustrador Marcos Pedrossian Coelho, 43 anos, criou dois personagens que passaram a auxiliar nas lives desenvolvidas pela igreja Atos de Justiça, Habacuke e Zizi, e a repercussão com as crianças resultou em um livro.
O livro infantil “Habacuke e Zizi: Volume 1” será lançado hoje, a partir das 17h, em live realizada no YouTube. “Meu livro contém histórias em quadrinhos e ilustrações maiores, de página dupla, por exemplo, além de atividades educativas, passatempos, jogos. É um livro interativo”, conta Marcos.

Marcos fez todas as ilustrações, que têm inspiração no cartunista Bill Watterson, criador das histórias de Calvin & Haroldo. “Trabalhei com desenho anos atrás e me formei em um curso de Desenho e Histórias em Quadrinhos na Abra – Academia Brasileira de Arte, em São Paulo”, completa.
O carinho pela ilustração surgiu ainda na infância. “Desde muito pequeno, já gostava de desenhar. Passava as férias inteiras produzindo desenhos diversos”, frisa. Apesar de gostar, Marcos nunca tinha escrito uma história em quadrinhos até a pandemia do coronavírus.
“Em uma reunião com colegas pastores, tivemos a ideia de fazer algo direcionado diretamente aos pequeninos, a princípio, para a igreja local que frequentamos. Assim nasceram o Habacuke e a Zizi, para trazer ensinos e diversão ao mesmo tempo, mesmo quando as crianças tinhas de ficar em casa por conta da pandemia”, pontua.
Agora, Marcos pretende lançar um livro ilustrado e a segunda edição da história em quadrinhos infantil. “Estamos na produção do volume 2 de ‘Habacuke e Zizi’. Vamos continuar com certeza”, revela.