
“Essa situação foi o ápice. Tive medo de ser agredida fisicamente”, diz médica que acionou a polícia contra pacientes que exigiam prescrição de medicamentos do chamado kit covid, no fim da tarde de quinta-feira, 22, em posto de saúde de Três Lagoas.
A médica, de 26 anos, diz que as agressões verbais vivenciadas por ela essa semana são comuns por pacientes que querem, de qualquer forma, receberem os remédios do kit, que inclui, entre outros, a Azitromicina, a Hidroxicloroquina e a Ivermectina. “Se elas vêm a prescrição e não tem nenhum desses, a pessoa se altera, fala alto, é grossa, xinga”, detalha.
Graduada há um ano, a jovem não quer ter o nome divulgado, mas conta que já começou a atuar na medicina encarando a linha de frente da pandemia. “Minha medicina é baseada em Ciência. Eu acompanho os estudos mais recentes da doença, o que tem de mais respeitado e atualizado”, sustenta.
Para ela, a polarização política chegou nos consultórios e tem atacado a relação entre médicos e pacientes, que deveria se pautar em respeito e confiança. A relação entre colegas também tem sido danificada.
“Isso tem atrapalhado o exercício da medicina sim. Eu tenho medo de trabalhar, de ser agredida, tanto que tenho crises de ansiedade. Tenho medo de me desacatarem e não era para ser assim. Era pra ser uma relação de respeito à minha conduta, confiança em quem estudou para estar ali”, afirma.
Entre profissionais médicos o respeito também diminui, com choques entre quem defende o chamado tratamento precoce e quem não o adota. “Colegas médicos desrespeitam nossa opinião e falam da nossa conduta pros pacientes, o que também não precisava acontecer”, relata.
Medo – ela afirma ainda que médicos que adotam a mesma postura que ela vivenciam apreensão semelhante, com pacientes nervosos, com muitas agressões verbais e muitos que chegam esmurrando a porta dos consultórios.
“Eu tive tanto medo ontem (quinta-feira), que chamei a polícia, porque já vivi outras situações em que achei que devia ter chamado e não chamei. E no posto não tem segurança. No meu horário estavam apenas mulheres e eu tive medo dele me agredir. Ele estava apontando o dedo na minha cara”, contou.