Diretórios do MDB resistem a exigências do PSDB para apoio a Simone Tebet

A aliança entre PSDB e MDB em torno da pré-candidatura da senadora Simone Tebet à Presidência da República conta com apoio majoritário das bancadas e executivas dos dois partidos, mas ainda esbarra em disputas locais entre as legendas em três Estados.

Foto: MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Após o presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmar, em entrevista ao Estadão, que o apoio dos tucanos depende da contrapartida do apoio do MDB a candidatos tucanos no Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso do Sul, o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi, deflagrou uma intensa articulação nos bastidores.
O anúncio da aliança nacional das duas legendas estava previsto inicialmente para ter acontecido na última terça-feira, 24. As diferenças regionais empurraram para o dia 2 de junho, quinta-feira da próxima semana, uma reunião da Executiva do PSDB em que o apoio ao MDB deve ser oficializado.
Apesar do “recado” de Araújo, emedebistas admitem que é inviável unir as duas legendas em Pernambuco, onde o MDB é alinhado com o PSB, e no Mato Grosso do Sul, onde Eduardo Riedel (PSDB) e André Pucinelli (MDB) são adversários. Nesses dois estados, Simone espera contar com dois palanques.
Em Pernambuco, Estado de Bruno Araújo, os tucanos já aceitaram que uma composição entre as duas legendas será difícil. Por outro lado, a cúpula do PSDB insiste em ter apoio do MDB no Mato Grosso do Sul, Estado da própria Simone. A cúpula tucana não abre mão de manter o comando da máquina estadual. Eles administram o Estado desde 2015 e querem eleger o sucessor do atual governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Sob reserva, integrantes do comando do MDB dizem que os tucanos lá tem um palanque muito conturbado e que Riedel é “um bolsominion”. Já André Puccinelli, o pré-candidato emedebista, tem acenado aos petistas.
Outro nó a se desatar é o Rio Grande do Sul, Estado que ao lado de São Paulo é a grande aposta do PSDB em 2022. O ex-governador Eduardo Leite é apontado pelos tucanos como candidato natural e favorito no Estado, mas o MDB local não abre mão de lançar o deputado estadual Gabriel Souza.
Em entrevista ao jornal Zero Hora, o presidente do MDB gaúcho, Fábio Branco, reclamou das declarações de Araújo e afirmou que a candidatura de Souza será mantida. Mas por outro lado é justamente no Rio Grande do Sul que está a principal base de Simone Tebet.
O coordenador de plano de governo da senadora é o ex-governador Germano Rigotto e o ex-senador Pedro Simon, decano do partido, é um dos mais ativos defensores da pré-candidatura.
Estratégia
Em conversas reservadas, integrantes da cúpula tucana dizem que Bruno Araújo sabe das dificuldades em Pernambuco e que aceitaria ceder nesse Estado, mas não no Rio Grande do Sul e no Mato Grosso do Sul.
O deputado federal Raul Henry, presidente do MDB pernambucano, disse que não há possibilidade de o partido apoiar Raquel Lyra, pré-candidata a governadora pelo PSDB. “A gente fazer um apoio à Raquel não tem nenhuma possibilidade. Com todo respeito que a gente tem por ela, uma pessoa de bem, mas não há essa possibilidade”, afirmou ao Estadão.
No Estado, o MDB é aliado do PSB e vai apoiar o deputado federal Danilo Cabral (PSB-PE) na sucessão do governador Paulo Câmara. O próprio Henry foi vice-governador durante o primeiro mandato de Câmara.
De acordo com o emedebista, o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, já sabe da situação de Pernambuco e da impossibilidade de aliança com os tucanos. “O presidente Baleia Rossi sabe que essa possibilidade não existe. A nossa construção política foi feita toda com o conhecimento da direção nacional do partido. Não acho justo que essa condição seja imposta”, afirmou.
MDB e PSB têm uma estratégia conjunta na eleição deste ano em Pernambuco. Um exemplo disso é Jarbas Filho, que é filho do senador Jarbas Vasconcelos e será candidato a deputado estadual pelo PSB.
“Temos uma participação no governo do Estado e na prefeitura do Recife. Eles (o PSB) se associaram a nós no esforço na formação de candidatos a deputados federais. Eu fui vice-governador, Jarbas foi eleito senador nessa aliança”, declarou Henry.
Na própria terra de Simone, o Mato Grosso do Sul, MDB e PSDB estão em lados diferentes. Os emedebistas já apresentaram o nome do ex-governador André Puccinelli, de quem Simone já foi vice, para a disputa e não admitem abrir mão dele. “Nenhuma possibilidade de recuo da candidatura do MDB para favorecer acordo”, afirmou Júnior Mochi, presidente do MDB-MS.
Já os tucanos querem concorrer com Eduardo Riedel, pré-candidato do grupo do atual governador Reinaldo Azambuja. Além da resistência de Puccinelli em desistir da eleição, há também o fator complicador de o PSDB local estar associado ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Riedel já disse que está “fechado com Bolsonaro” e deve ter a deputada Tereza Cristina (Progressistas) como candidata a senadora.
No Rio Grande do Sul, onde há perspectiva de acordo, a situação também ainda não foi resolvida. Por enquanto, o MDB local não admite retirar a pré-candidatura de Gabriel Souza.
“Ninguém conversou comigo, ninguém falou com o partido. O que temos decidido é que o Gabriel Souza é o nosso candidato a governador. O resto é especulação ou coisas que não foram tratadas”, disse Fábio Branco, presidente do MDB gaúcho, ao jornal Zero Hora.
No Datafolha, Lula tem 48% e Bolsonaro, 27%
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu 21 pontos porcentuais de vantagem sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno, aponta pesquisa do Datafolha divulgada ontem. De acordo com o levantamento, o petista lidera a corrida presidencial com 48% das intenções de voto, seguido por Bolsonaro (27%) e Ciro Gomes (PDT), com 7%. Os demais candidatos não ultrapassam 2%. Os pré-candidatos Luiz Felipe Felipe d’Avila (Novo), Sofia Manzano (PCB), Leonardo Péricles (UP), Eymael (Democracia Cristã), Luciano Bivar (União Brasil) e general Santos Cruz (Podemos) não pontuaram. Brancos e nulos são 7% e não sabem, 4%
O levantamento é o primeiro realizado pelo instituto após Sérgio Moro (União Brasil) e João Doria (PSDB) abandonarem a corrida ao Planalto. Na última pesquisa a diferença entre Lula e Bolsonaro era de 17 pontos. O instituto, no entanto, aponta que o novo levantamento não é diretamente comparável ao anterior, realizado nos dias 22 e 23 de março, por aplicar cenários distintos.
Votos válidos
De acordo com a pesquisa divulgada nesta quinta-feira, Lula venceria a eleição presidencial no primeiro turno se a disputa fosse hoje, com 54% dos votos válidos, contra 30% de Bolsonaro. O porcentual de votos válidos, que exclui os em branco e os nulos, é o considerado pela Justiça Eleitoral para declarar o resultado final. No primeiro turno, vence o candidato que tem 50% dos votos válidos mais um.
Espontânea
Segundo a pesquisa, Lula cresceu na pesquisa espontânea, quando não são apresentados nomes dos candidatos, e aparece com 38% – em março eram 30%. Bolsonaro tinha 23% em março e agora pontua 22%. O levantamento mostra, ainda, que os indecisos na espontânea somam 29%, menor índice da série para esse quesito – eram 32% em março. A conclusão feita pelo Datafolha é que esta taxa confirma a tendência de afunilamento rumo a um embate direto entre Lula e Bolsonaro.
A pesquisa foi feita com 2.556 eleitores acima dos 16 anos em 181 cidades de todo o país, e o levantamento foi feito entre quarta-feira (25) e quinta-feira (26). A margem de erro é de dois pontos, para mais ou para menos. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-05166/2022.
Segundo turno
O Datafolha também fez simulações para um eventual segundo turno. Lula marca 58% das intenções de voto, enquanto Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário, chega a 33%. Na pesquisa anterior, de março, Lula tinha 55% das intenções de votos, contra 34% de Bolsonaro.
A vantagem do ex-presidente, portanto, cresceu de 21 pontos percentuais para 25, diz o levantamento. Votariam em branco ou nulo 8%, contra 10% antes, e 1% não sabe em qual deles votar, mesmo índice anterior.
Em um cenário de Bolsonaro contra Ciro Gomes, o pedetista vence o presidente por 52% a 36%. Em março, Ciro marcava 46%, e Bolsonaro tinha 37%. Os votos em branco e nulos são 10%, contra 16% na pesquisa anterior. Os indecisos seguem somando 1%. Já entre Lula e Ciro, é o petista quem venceria no segundo turno com 55% contra 29% do candidato do PDT. O cenário se mantém estável em relação à pesquisa de março, quando Lula marcou 54% e Ciro, 28%.