Bolsonaro deve polarizar com o ex-presidente Lula. Foto: Alvaro Rezende

Polarização bolsonarismo e lulopetismo é tema de debates, principalmente em partidos de centro-direita e centro-esquerda, desde as eleições de 2018, que culminou com a subida da rampa do Planalto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Agora, diversos políticos mais ao centro e analistas políticos têm dito – com base nas últimas pesquisas eleitorais – que o jogo pode ter virado e bolsonarismo mais radical e negacionista pode estar alavancando a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao poder.

O Correio do Estado procurou ouvir parlamentares de centro-direita e esquerda. Além deles, a reportagem contou com a participação do cientista político e professor na área de Ciências Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Daniel Miranda.

SEM NOME

“O que pode alavancar a volta do PT ao poder nacionalmente não é a polarização, na qual sempre fez e fará parte da própria política brasileira, mas, sim, se a direita tradicional e a não extremista (PSDB, DEM, PSD) não conseguirem encontrar um nome viável para as eleições de 2022.

Se acharem, e caso se unam para deslocar Bolsonaro para fora da disputa, ocupando o lugar dele, talvez isso enfraqueça as intenções de voto no partido petista”, analisou Miranda.

O deputado Fábio Trad (PSD) tem como presidente nacional o ex-ministro dos governos Dilma e Temer, Gilberto Kassab, que no dia 9 deste mês se reuniu com o ex-presidente Lula, em Brasília, e abriu margem para ventilar informações de um racha entre o PSD e o presidente, que até as eleições das presidências do Congresso Nacional foram aliados.

No entanto, apesar dessa aproximação com Bolsonaro, o deputado Fábio nunca se limitou a tecer críticas ao governo federal, principalmente na condução do combate à pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Para ele, assim como os analistas políticos, é bem provável que esse avanço do PT nas pesquisas se deve a polarização do bolsonarismo.

“O quadro tem dois pólos divididos e quem ganha com isso é quem polariza. Enquanto não houver outra alternativa, a tendência é justamente esta. Essa conjuntura só seria revertida com a aparição de uma personalidade do campo moderado que emocione o povo brasileiro com uma mensagem de esperança e que apresente uma vida política imaculada. Fora disso, ou Lula ou Bolsonaro”.

E projetou dizendo que o “PT vai recuperar parte de sua força política e se alinhará com candidaturas que se oponham ao bolsonarismo. Da mesma forma, o bolsonarismo procurará ampliar seus espaços com mais candidaturas majoritárias vinculadas à figura do presidente. Isso faz parte do jogo dos dois extremos”.

OUTRA VISÃO

Já a senadora Simone Tebet tem uma visão mais alinhada ao cientista político. Ela acredita que o bolsonarismo não aumentará a popularidade do PT e que a volta do ex-presidente Lula ao cenário político, por decisão judicial, serviu apenas para aumentar o extremismo.

“Nós temos pesquisas apontando que 50% da população quer uma via mais centralizada e pragmática politicamente. Esse fato só nos mostra o quanto é importante o centro-democrátrico apontar uma figura que reúna os anseios do povo em torno de um projeto de desenvolvimento nacional. Portanto, para fugir desses estados de extremismo, o centro tem de estar unido e abrir mão de nomes, deixando de fulanizar o debate pelo País”, analisou.

O deputado federal Dagoberto Nogueira pertencente ao PDT, um partido de esquerda que tenta fugir da sombra de Lula na figura do ex-governador, Ciro Gomes, avalia que essa força alcançada pelo PT nas últimas pesquisas é natural, pois para ele a política “desastrosa de Bolsonaro na economia e frente pandemia se revela com a dissolução da imagem do presidente”.

Porém, ele aposta que aconteça o mesmo que ocorreu nas eleições municipais em 2022, em que candidatos que tinham as sombras dos dois extremos, em sua maioria, foram derrotados nas urnas.