
Em 4 dezembro de 2019, de dia, um grupo de policiais militares entrou num sítio, em Coronel Sapucaia, cidade de Mato Grosso do Sul, situada na faixa de fronteira com o Paraguai. Os PMs procuravam quatro homens que dois dias atrás tinham assaltado um carro-forte na região. Foram recebidos a bala, segundo os policiais. Três morreram fuzilados e um, ferido, foi capturado. Um dos corpos era de José Francisco de Lumes, o conhecido Zé de Lessa, então com 36 anos de idade, tido para as autoridades do estado da Bahia como o ás de ouro do baralho, uma espécie de nomenclatura dada aos criminosos atemorizadores.
Daqui em diante, umas coincidências.
Zé de Lessa era tido como o líder da facção BDM (Bonde do Maluco), uma organização criminosa, que seria parceira do PCC, maior facção do país.
No lugar de Lessa, assumiu seu comparsa, que agia na Bahia, Ednaldo Freire Ferreira, 43, o chamado Dadá.
Tempos depois Dadá foi preso, solto, preso de novo.
Dia 5 de setembro passado, Dadá foi detido numa estrada do sertão pernambucano, a uns 300 km da capital Recife. Mostrou documentos falsos, mas logo sua real identidade foi descoberta pelos autores da abordagem, agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal).
Dadá foi levado para o presídio pernambucano, mas não ficou por lá por muito tempo, conforme noticiou neste domingo, reportagem da Folha de S. Paulo.
Por força de medida judicial, ele foi posto em liberdade domiciliar porque advogados que o defenderam disseram que ele tinha um filho autista e era quem cuidava da criança.
Logo que deixou a prisão, caiu a decisão que o libertou, mas ele sumiu. O magistrado que mandou soltar o lider da facção foi afastado do cargo por ordem do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), órgão que investiga a conduta dos juízes.
TAMBÉM ASSIM
Retomando o histórico de Lessa, o líder de facção, morto por policiais, em Mato Grosso do Sul.
Dadá foi favorecido por uma medida judicial que havia contribuído com a liberdade de seu então chefe, o Lessa.
Zé de Lessa estava preso, em 2014, quase dez anos atrás, por tráfico. Ingressou com recurso judicial alegando que precisava fazer uma cirurgia no braço.
A ele foi concedida a conhecida prisão domiciliar. Saiu do cárcere e as autoridades baianas só souberam dele no dia 4 de dezembro de 2019, cinco anos depois, naquele dia que a polícia sul-mato-grossense o fuzilou.
A organização chefiada hoje por Dadá, a BDM, na Bahia, tem contribuído com o número de assassinatos que ocorre no Estado. O chefe da facção segue foragido.
AQUI EM MS
Em Mato Grosso do Sul, corre no CNJ um processo em que um desembargador, Divoncir Schreiner Maran, do Tribunal de Justiça, tem sido investigado por ter mandado soltar, em abril de 2020, Gerson Palermo, conhecido narcotraficante.
Ele foi posto em liberdade domiciliar porque sua defesa sustentou na apelação que ele já tinha mais de 60 anos e era doente, portanto, vulnerável a Covid.
Oito horas depois de mandar soltar o criminoso, que cumpria prisão em Campo Grande, outro desembargador derrubou a decisão que o pôs em liberdade. Tarde demais. Palermo já tinha se livrado da tornozeleira e sumido da cidade