
De um lado 428 pessoas esperam por um transplante de órgão em Mato Grosso do Sul. Do outro, 70% dos familiares recusam a doação de órgãos e tecidos de seus parentes depois da comprovação da morte encefálica comprovada no estado, de acordo com a central estadual de Transplantes.
Diante dos dados e da análise da central estadual , a recusa familiar se torna o principal motivo para que um órgão não seja doado em Mato Grosso do Sul. A pandemia também pode ter afetado os números de novos transplantes, segundo a coordenadora estadual da Central de Transplantes, Claire Miozzo, além de outros fatores.
“Muitas vezes tinha um potencial doador de órgãos e tecidos, e o resultado do teste de Covid dava positivo. Algumas vezes tínhamos o doador e não tinha leito disponível para realizar o transplante. Outras vezes o receptor que ia receber o transplantes estava com Covid. Tivemos alta na negativa familiar. As famílias ansiosas e com medo da doença, negavam fazer a doação. Foram vários fatores que fizeram com que o processo fosse prejudicado”, explica.
Em Mato Grosso do Sul, conforme o levantamento da central de transplantes, de janeiro a agosto deste ano foram realizados transplantes de 1 coração, 7 rins e 91 córneas. No mesmo período do ano passado foram 3 corações, 17 rins e 80 córneas.
A analista contábil Beatriz Souza Cunha, de 34 anos, recebeu o transplante de córnea em 2019, antes da pandemia. Ela conta que ficou seis meses na fila, e lembra como se fosse hoje do dia que recebeu a ligação da Central de Transplantes.
“Fiquei paralisada de felicidade e medo ao mesmo tempo! Feliz por ter chegado meu esperado dia de finalmente resolver um problema que estava dificultando muito minha vida e me causando grandes transtornos! Perder a visão além de ser difícil pela própria deficiência, também deixa uma marca pesada na auto estima pois afeta a aparência do olho, então era muito triste estar passando por aquela situação. Com medo pois é uma cirurgia que envolve riscos como qualquer outra questão cirúrgica. Mas graças a Deus e aos profissionais que me atenderam deu tudo certo”.
Luciana de Oliveira França, de 40 anos, espera ansiosa por um transplante de córnea. França teve uma infecção associada ao uso de lente de contato, que acabou prejudicando sua córnea. Ao todo, são dois anos de espera por um transplante.
“Estou há dois anos na fila. O transplante é essencial, tanto de córneas quanto para outros órgãos, porque em nós mulheres, por exemplo, a autoestima vai lá embaixo. Eu não caí em depressão porque confio muito em Deus, e entreguei nas mãos Dele e também das famílias que puderem autorizar a doação de seus entes queridos”.
Seja um doador
De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, para ser um doador de órgãos e tecidos para transplante, pela legislação vigente, nenhuma declaração em vida é válida ou necessária. O passo mais importante é deixar os familiares avisados da vontade.
Discutir o assunto, em vida, com os familiares, amplia a chance do restante da família se revelar doador ou não doador de órgãos.
A doação de órgãos é um ato pelo qual você manifesta a vontade de que, a partir do momento da constatação da morte encefálica, uma ou mais partes do seu corpo (órgãos ou tecidos), em condições de serem aproveitadas para transplante, possam ajudar outras pessoas.