O setor de celulose em Mato Grosso do Sul pode gerar, a médio e longo prazo, um volume de energia elétrica – bioeletricidade – equivalente a cinco vezes a capacidade da Usina Hidrelétrica Engenheiro Souza Dias (Jupiá), que é de 1.551 megawatts.
A estimativa foi apresentada na manhã desta sexta-feira (29) pelo diretor de Competitividade e Facilities da Eldorado Brasil Celulose, Jozebio Gomes, durante o painel que discutiu as oportunidades de transição energética para o estado no Fórum de Bioenergia, realizado na Casa da Indústria, em Campo Grande.
Gomes explicou que a projeção foi feita levando em conta as capacidades das plantas de celulose já em operação no estado (três da Suzano e uma da Eldorado) e os novos projetos já em execução ou estudo (Arauco, Eldorado – segunda linha e Bracell). Esse parque industrial, conforme ele, deve produzir cerca de 16 milhões de toneladas de celulose por ano.
Além dessa geração futura, considerando somente a produção de celulose, Gomes explicou que existe uma possibilidade, um “pulo do gato”, para o setor ampliar ainda mais esse volume. Ele citou o projeto implantado na Eldorado, da construção da Termelétrica Onça Pintada, que utiliza tocos que ficavam no campo após o corte do eucalipto, além de galhos e folhas, para a geração de bioeletricidade.
“Para eu produzir 16 milhões de toneladas de celulose, eu preciso de área plantada. O estado tem cerca de 1,8 milhão de hectares, e vamos precisar de quase 2 milhões de hectares. Estamos falando de 2 bilhões de árvores plantadas. Desse total, 70% eu vou reformar a cada 7 anos, e 14% desse volume eu estaria deixando nas áreas. É toco. Mantendo a sustentabilidade do solo, mas retirando esse toco, eu teria 5 milhões de toneladas de biomassa por ano, somente de toco. Utilizando esse material para a produção de energia, teria a relação de 1,1 tonelada por megawatt gerado. São 5 milhões de megawatts de energia, que, somados aos outros 3 milhões produzidos com a produção de celulose, eu teria cerca de 8 milhões de megawatts de energia por ano. O suficiente para abastecer 3,5 milhões de pessoas”, detalha.
Gomes diz que é preciso se atentar a esse potencial e a como o setor pode contribuir não somente para a mudança da matriz energética do estado, mas também do país.
Matriz limpa
Na avaliação do secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, Mato Grosso do Sul já fez seu processo de transição energética, pois 94% de sua matriz vem de fontes renováveis (hidráulica, biomassa e solar). “A rigor, nós já fizemos o processo de transição, mas isso, obviamente, não garante uma tranquilidade; é somente um ponto de vista para darmos continuidade.”
Entre os desafios do estado, ele cita a certificação das ações e projetos que desenvolve e a melhoria da infraestrutura para o desenvolvimento dos projetos. O secretário apontou que eventos como o Fórum de Bioenergia são importantes para a discussão das linhas de ação que podem ser adotadas para ampliar o processo de produção.
“Então, estamos falando da produção de energia por meio da biomassa. Falando da questão do avanço do biometano, do etanol de segunda geração, do SAF e do etanol de milho. Mato Grosso do Sul está pronto para se apropriar da estratégia de expansão da bioenergia, e isso passa pela nossa produção agrícola.”